Ela Gente

O lado B da Argentina: livro recém-lançado descreve histórias pitorescas dos hermanos

Livro do jornalista Ariel Palacios traça perfil divertido do país e vem até com glossário sexual

Maradona, Keyra Agustina e seu “derière contido” e Carlos Nair Menem
Foto: Reprodução
Maradona, Keyra Agustina e seu “derière contido” e Carlos Nair Menem Foto: Reprodução

O jornalista Ariel Palacios é um sortudo. "Os argentinos", livro que começou a imaginar em 1995, acabou saindo este ano, exatamente quando o grande frisson mundial é o cardeal Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, que levou a Argentina ao centro dos holofotes. Correspondente da Globo News em Buenos Aires, Palacios escreveu um livro delicioso que traça um perfil econômico, político e social do país onde nasceu.

— Eu queria contribuir para acabar com os clichês dos brasileiros em relação à Argentina — explica o autor.

No capítulo que fala sobre sexo, destaque para os motéis.

— Nos anos 80, foram construídos motéis no centro da cidade, em lugares movimentados, mas com entradas providenciais: tem um arbusto ou árvore em frente. Dá para entrar sem ser notado.

O prédio onde mora Palacios fica ao lado de um motel, o Acapulco, na Rua Azcuénaga, atrás do cemitério da Recoleta.

— Minha sala de TV é colada a um dos quartos do oitavo andar do motel. Volta e meia ouço exclamações eróticas ou o barulho da hidromassagem — conta o jornalista, que está estreando com pé direito no mercado editorial.

O livro traz ainda um glossário sexual.

— O verbo transar, por exemplo, que foi recolhido pelos turistas argentinos que vieram ao Brasil nos anos 80, não se refere ao ato em si, mas às preliminares, beijos e carícias. Já curtir, na Argentina, significa transar.

Como sexo nunca é demais, Palacios dedica um capítulo aos glúteos argentinos que ganharam o mundo. E cita como exemplo Keyra Agustina, que, soube-se recentemente, era o pseudônimo da universitária Julieta Machado.

— Quando a revista holandesa “Zoo” lançou, no ano passado, seu ranking dos melhores bumbuns femininos do planeta, não havia brasileiras, mas Keyra, que era um furor na internet, ficou em oitavo lugar. As produções eram caseiras, sem retoque de Fotoshop, e durante anos ela jamais mostrou o rosto — conta Ariel, citando o ensaísta Martín Caparrós, que defende que “A bunda argentina é mais ‘contida’, enquanto a brasileira é 'expansiva’".

Os grandes mitos como Gardel, Borges, Evita, e Maradona também são citados, com direito a casos e frases, como a do jogador argentino (1998): “Não tenho nada contra os gays. Acho bom que existam, já que dessa forma deixam livres mais mulheres para nós, que somos machos de verdade!”.

A evolução do tango e a carne bovina, claro, merecem capítulos especiais.

— A carne é tão importante para os argentinos que até em telenovelas tivemos protagonistas açougueiros. O apreço nacional pela carne está até nas expressões idiomáticas. Uma das formas de elogiar o físico de uma pessoa é “Pero que lomo, che!” (Olha só que filé mignon!). Uma cantada popular nas ruas de Buenos Aires é “Quisiera ser papas fritas para acompañar ese lomo” (Quisera eu ser batata frita para estar ao lado desse filé-mignon).

Ariel também conta histórias pitorescas, como a de um filho bastardo do ex-presidente Menem, Carlos Nair, que durante anos tentou em vão ser reconhecido pelo pai. Isso só aconteceu depois que o rapaz virou celebridade na versão local do Big Brother.

— Os integrantes descobriram que o filho do ex-presidente tinha um aparelho reprodutor de consideráveis dimensões. As participantes femininas proferiram frases apologéticas sobre o diâmetro e o comprimento do supracitado. E assim Carlos Nair ficou conhecido na Argentina pelo apelido de “La Anaconda”, em referência à gigantesca cobra amazônica.

Ariel conta que, animadíssimo, Menem reconheceu o filho ilegítimo depois de 27 anos, gabando-se: “Só podia ser filho meu”.

— Mas a vedete do teatro de revista Moria Casán, ex-amante de “El Turco”, nos anos 80, sugeriu que as proporções da genitália de Nair não tinham necessariamente correlação com o pai, o qual ela conhecia muito bem.

Palacios lembra que são os argentinos que fazem as melhores piadas sobre si mesmos. Como aquela que diz que a mais eficaz forma de suicídio de um argentino é subir em seu próprio ego e se atirar lá de cima. E comenta, ainda, que os heterossexuais amam as brasileiras.

— Eles as consideram vulcões sexuais, donas de glúteos exuberantes e protagonistas de coreografias delirantes no leito. E os homossexuais exaltam os “bultos” dos brasileiros, forma popular para a genitália de volume substancial.